Um crime calculado para ir além da morte da vítima. Assim, a Polícia Civil caracteriza a ação do publicitário Ricardo Jardim, de 65 anos, que foi detido preventivamente nesta sexta-feira (5) sob a acusação de assassinar e desmembrar sua namorada em Porto Alegre. Os investigadores afirmam que ele não apenas arquitetou o feminicídio, mas também tentou desafiar o Estado e causar um grande impacto social, escolhendo lugares estratégicos e deixando evidências enganosas para confundir a investigação.
Segundo o delegado Mário Souza, o suspeito é descrito como "um homem sem emoções, educado e muito inteligente". Apesar de ter tomado cuidados para não ser reconhecido — como usar máscara, luvas, óculos e boné —, ele se expôs em áreas que eram vigiadas por câmeras. "Ele queria ser notado. Desejou chocar a sociedade, como se estivesse sempre um passo à frente da polícia", esclareceu o delegado.
As investigações indicam que o crime foi realizado em diferentes etapas. No dia 13 de agosto, os membros da vítima foram descartados em sacos de lixo na Zona Leste, em um local isolado e sem vigilância.
Uma semana depois, o suspeito transportou o tronco até a rodoviária de Porto Alegre, que é um dos locais mais movimentados e vigiados do estado, guardando a parte do corpo dentro de uma mala na área de bagagens.
Além de escolher cuidadosamente os locais, ele também teria fabricado pistas falsas, inclusive dentro da mala, e realizado denúncias falsas na tentativa de manipular os investigadores. "Parecia que queria controlar as ações do Estado, ditar a direção da investigação", afirmou Souza.
O publicitário, que recebeu uma homenagem da Câmara Municipal de Nilópolis (RJ) em março deste ano por seu trabalho, foi descrito pela polícia como alguém com conhecimento em cortes, o que justificaria a precisão no desmembramento. Para os investigadores, o caso revela um alto nível de organização criminosa e frieza.
O crânio ainda não foi encontrado. A polícia suspeita que o acusado pode estar planejando um terceiro ato, que poderia também ser encenado para provocar repercussão.
As investigações continuam, e a Polícia Civil busca verificar se houve participação de outros envolvidos.